Esta é a história de Propúcio Lambinhas, um rapaz que era a loucura da corporação dos Bombeiros Voluntários de Alcufurado. Por onde passava, ficava, levava e quase sempre voltava para mais. Chamavam-lhe o "TMN" por ter cobertura em todo o país. Para ele o tamanho não interessava desde que fosse grande. Ainda por cima era do contra: contra tudo. Era tão do contra, tão do contra, que um dia organizou uma viagem de barco com os amigos e chamou-lhe a Arca do é ou não é. E foi. Foi lá que Propúcio Lambinhas conheceu a sua cara metade, o Alberto, um negro alto e robusto a quem chamavam o "exagero".
Propúcio Lambinhas passara a vida à procura de alguém que preenchesse o seu vazio interior e com Alberto o encaixe foi perfeito. Doeu, mas foi perfeito. Aconteceu no duche. Um dia Alberto atirou o sabonete para o chão. Lambinhas curvou-se, apanhou-o e deitou-o pela janela. "Que fazes, não queres...?" perguntou Alberto. E antes mesmo que pudesse terminar a frase, Lambinhas tapou-lhe a boca, pegou no sabonete liquido, despejou-o todo na banheira, dobrou-se e ficou horas a apanhá-lo. Apanhou tanto, tanto que nunca mais na vida lhe cresceram pelos no rabo.
Um dia o romance acabou. O desgosto foi tão grande que Propúcio tentou mudar de vida. Foi ao médico e disse-lhe que queria deixar de gostar de homens. "Mas como é que você escolheu esse tipo de vida", perguntou o médico. "Fui forçado a isso. Estava um dia a brincar no jardim, quando o meu primo veio por trás, agarrou-me e abusou de mim. Foi um horror!", disse. "Mas você podia ter fugido. Porque é que não tentou correr?", perguntou o médico. "Tentar eu tentei, mas de saltos altos e saia justa, não consegui!", explicou.
Um dia Propúcio Lambinhas decidiu procurar emprego. Foi quando sentiu, pela primeira vez o peso da descriminação. Arranjou trabalho num banco de doação de esperma mas foi despedido ao final de três dias por ter sido apanhado a beber em serviço. Decidiu voltar à vida activa. Comprou um carro lilás e no vidro de trás colou um autocolante que dizia: "Está com pressa passe por cima... que eu adoro".
De manhã Propúcio Lambinhas só comia pasteis de nata com canela e pedia sempre um carioca de limão. "Sou louco por cariocas", dizia sempre ao balcão. Uma vez deu-se mal. Foi durante umas férias no Rio de Janeiro. A malta do café não gostou de ouvir o elogiu e Propúcio levou uma tareia tão grande, tão grande, que a partir desse dia passou só a beber garotos. Passou a repeti-lo tantas vezes ao balcão, "adoro garotos", que uma vez o dono do café chamou a polícia. Propúcio esteve dois dias sob interrogatório.
Propúcio Lambinhas ainda tentou ser homem. Um dia foi ao futebol, "coisa de macho" pensou, mas dez minutos depois da partida começar teve de sair a correr. Foi mais forte do que ele. Quando o árbitro apitou para o pontapé de saída, Propúcio Lambinhas começou a imaginar que era a bola, sonhou com 22 homens a correr atrás de si e a disputarem-no, imaginou que era o relvado, com os jogadores todos a pisarem-no e a cairem em cima de si. Decidiu abandonar o estádio quando viu Agnelo Tolinhas, o número dez do vilabuquense cair inanimado no relvado aos nove minutos. Lambinhas imaginou que era a própria ambulância, sonhou com dois enfermeiros a abrirem-no por trás e a meterem-lhe um homem todo dentro.
Já na escola Propúcio Lambinhas tinha a alcunha de "raparigo". Um dia deixou-se seduzir pelo professor de "educação fisica". Foi tão bem educado, tão bem educado que os amigos passaram a chamar-lhe o "pé em riste". A expressão "não há cú", para ele não existia. No dia em que o avô morreu, Lambinhas ficou muito transtornado. Toda a gente pensou que ele ia mudar. "Morreu de quê?", perguntou ele à mãe. "Febre amarela", respondeu-lhe ela. "Meu Deus que cor horrível!", disse. Pouco tempo depois o pai morreu de desgosto. Propúcio Lambinhas tentou matar-se. Estava na beira de um viaduto para se atirar quando foi abordado por um mendigo.
- O senhor vai-se matar?
- Vou.
- Como se chama?
- Propúcio Lambinhas!
- Bom, eu como esse nome também me matava!
- Engraçadinho!
- Já que vai matar-se, não me pode dar as suas roupas?
Porpúcio Lambinhas olhou à volta a ver se estava alguém, despiu-se por completo e entregou as roupas.
O mendigo olhou para Propúcio todo nú e perguntou:
- Olhe, já que vai matar-se e uma vez que eu não faço sexo com ninguém há anos não me pode deixar comê-lo. Ninguém vai saber!
Porpúcio olhou à volta, dobrou-se e pôs-se a jeito. No final virou-se para o mendigo e disse:
- Agora, por favor devolva-me as minhas roupas!
- Mas o senhor já não se vai matar?
- Mudei de ideias... Descobri uma razão para viver!!!!