segunda-feira, setembro 19, 2005

Uma vida desgraçada

Esta é a história de Lerpa Mansinho, um gajo que não sendo o dono do mundo era filho do dono (como de resto tudo o que mexe). Surpreendido um dia enquanto roubava uma casa nos arredores de Bordas, na localidade de Coina, fugiu pela porta dos fundos, escalou uma parede de 3 metros, pulou para o outro lado e caiu dentro da prisão municipal. A mulher abandonou-o. Disse-lhe eu: "Pelo menos vais deixar de ter de carregar o peso dos chifres". Ao que ele me respondeu: "Melhor que isso é deixar de ter de sustentar a vaca".

Lerpa Mansinho nunca teve uma vida afortunada. Para ele, depois da tempestade, vinha sempre a gripe. Era tão pessimista que usava cinto e suspensório ao mesmo tempo. Em qualquer situação era ele quem ria por último. Chamavam-lhe atrasado. Dizia ele: "Quem não tem cão, não caça". E assim vivia. Para ele as mulheres eram como as moedas: ou lhe saiam caras ou lhe saiam coroas. Casou um dia com uma mulher tão feia, tão feia, que até nos feriados Lerpa Mansinho ia trabalhar. Se as mulheres foram feitas a partir da costela aquela tinha vindo do muco.

Lerpa Mansinho só existia porque insistia. Um dia saiu de casa, meteu a mochila às costas e decidiu correr mundo. "Agora sou alpinista, só o cume interessa", disse-me à despedida. Regressou dois dias depois. Não deu grandes explicações: "Águas passadas não fazem remoinhos", disse. E assim ficou. Lerpa Mansinho não era um homem de muitas palavras. Dizia ele que os discursos deviam ser como as mini-saias, curtos. Mas ele devia ser adepto do nudismo porque nunca foi capaz de dizer mais do que seis palavras seguidas. Voltou a insistir numa nova relação. Arranjou a mulher certa. De todas as que lhe conheci foi a única que andou na linha. Por azar, o comboio apanhou-a.

Lerpa Mansinho tentou o suicídio. Quando pendurou a corda para se enforcar teve uma crise de asma tão grande que julgou que ia desta para melhor. Desistiu. Tinha que arranjar um emprego. Começou como carteiro e gostava de sê-lo, mas a coisa não correu bem. Lerpa Mansinho andava muito devagar. A correspondência chegava com uma semana de atraso. Com ele havia males que vinham para pior. O senhorio pô-lo fora. "Alegria de pobre é impossível", costumava dizer. Depois disso conheceu a Adelaide uma mulher com mais pelo na cara do que ele no peito. "O que é que vês nela", perguntei-lhe. "A Adelaide é como um circo, por baixo do pano é que está o espectáculo". Não durou mais do que dois dias. Um dia ao acordar, Lerpa Mansinho encontrou um evelope na mesinha de cabeceira que dizia: "Foi em legítima defesa!". O que mais o chateou foi ela ter partido sem ter comprado o pão primeiro.

Lerpa Mansinho era tão sovina que até penteava o cabelo para trás para não ter que repartir. Não levou muito a cair no mundo do crime. Um dia assaltou uma livraria. Entrou encapuzado, apontou a arma à balconista e gritou: "O dinheiro ou a vida!", ao que ela perguntou: "De que autor?". Depois disso veio a bebida. Coincidiu com um desgosto de amor. Certo dia ao chegar a casa encontrou a sua quinta mulher a fazer sexo anal com o seu melhor amigo. Desgostoso correu para o bar e encheu a cara. Nesse dia conheceu Carrapo Cheirinho, esse sim um bebado por convicção de quem se dizia que tinha o.5 gramas de sangue no álcool. Travaram uma longa conversa. Lerpa Mansinho contou-lhe a traição, ao que Carrapo Cheirinho respondeu: "A vida é assim mesmo...Um dia eu estava numa viagem de comboio e deu-me uma vontade enorme de cagar, fui à casa de banho e só me peidei. Na volta dessa viagem, estava com vontade de peidar, não fui à casa de banho e acabei por me cagar todo". No início Lerpa Mansinho não percebeu e disse-lhe: "Porra, eu aqui a precisar de uma palavra amiga e tu vens com essa história do "cagar" e do "peidar". E Carrapo Cheirinho respondeu-lhe: "Só ter quero mostrar como é a vida. Se a gente não pode confiar no nosso próprio cú muito menos no dos outros".

Um dia Lerpa Mansinho decidiu dar um novo rumo à sua vida. Arranjou noiva, mudou de barraca e já tinha planos para ter filhos quando decidiu fazer o último assalto, para a despedida. Correu mal. Foi no dia em que Lerpa Mansinho caiu dentro da prisão municipal. No julgamento disse-lhe o juiz: "Com que então não se contentou com o dinheiro que levou à pobre familia e ainda teve de voltar atrás para roubar as loiças e os quadros!". Ao que Lerpa Mansinho Respondeu: "Descobri que só o dinheiro não me dava felicidade".

Lerpa Mansinho morreu na prisão... à fome, mas nem na hora da morte teve sorte. Quando chegou à entrada do céu estava uma fila imensa. Coube-lhe a senha número 1450. À sua frente estavam um tuberculoso e um leproso. Na hora de entrar no céu Deus mandou aproximar os três e perguntou-lhes:
- "Então meu filho morreste do quê?"
- "Morri de tuberculose", respondeu o tuberculoso.
- "Então prova", disse Deus.
- O homem começou a tossir até encher a sala de catarro.
Deus chamou o Leproso:
- "E tu meu filho morreste do quê?"
- "Morri de Lepra", disse o leproso- "Então prova", desafiou Deus.
O homem puxou pelas orelhas e atirou-as para o chão.
Chegou a vez de Lerpa Mansinho
- "E Tu meu rapaz, morreste de quê?"
- "Morri de fome!" respondeu Lerpa Mansinho.
- "Prova-me meu filho", disse Deus.
Então Lerpa mansinho apanhou as orelhas do chão, passou no catarro e comeu!!!

14 Comments:

At 10:54 da tarde, Blogger Toze said...

Omeublogemaiorqueoteu : Parabéns , és o Vencedor da Legenda lá no Ministério da Soltura. Não encontro o teu mail para te convidar a fazer um post da tua autoria como prémio ! Fico aguardar :)))

Abraço
Finurias

 
At 10:55 da tarde, Blogger Toze said...

Omeublogemaiorqueoteu : Parabéns , és o Vencedor da Legenda lá no Ministério da Soltura. Não encontro o teu mail para te convidar a fazer um post da tua autoria como prémio ! Fico aguardar :)))

Abraço
Finurias

 
At 10:55 da tarde, Blogger Toze said...

Omeublogemaiorqueoteu : Parabéns , és o Vencedor da Legenda lá no Ministério da Soltura. Não encontro o teu mail para te convidar a fazer um post da tua autoria como prémio ! Fico aguardar :)))

Abraço
Finurias

 
At 10:55 da tarde, Blogger Toze said...

Omeublogemaiorqueoteu : Parabéns , és o Vencedor da Legenda lá no Ministério da Soltura. Não encontro o teu mail para te convidar a fazer um post da tua autoria como prémio ! Fico aguardar :)))

Abraço
Finurias

 
At 10:59 da tarde, Blogger El Gordo said...

E de repente... a minha vida ficou com mais luz!!! Desgraçado...

 
At 10:03 da manhã, Blogger just me said...

Não fora a frase final e teria sido perfeito!!! Blaarrrgghhh!!! Ainda estou a imaginar o Lepra de orelha na mão!!!!

 
At 11:04 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A Just me tem razão: àparte o fim, brilhante. Bem, o fim, à sua maneira, também é brilhante, mas...

 
At 1:37 da tarde, Blogger Bzz said...

Blarghhhhhhhh....mas, que bem escreves!
**Bzz

 
At 6:07 da tarde, Blogger asterisco said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 6:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já agora: estímulo aceite - já lá coloquei o Flugubainger.

 
At 7:15 da tarde, Blogger nana said...

O Lerpa lerpou!
fabuloso!!!
;)

 
At 11:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Heiiiiiiiiiiiiii! Como foste descobrir a minha vida?!?!?!?!?

 
At 8:50 da tarde, Blogger Joana said...

Que texto hilariante! Adorei :)
Muito bem escrito

 
At 1:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ía tudo tão bem, tinha de ser tão nojento? O Lerpa Mansinho merecia uma morte menos porca e mais azarada.

 

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